Autor: Robert M. Pirsig
Editora: WMF Martins Fontes
Classificação: 4/5
Comentário
Por gostar tanto de motos, já tinha por diversas vezes cogitado ler este livro. Essa vontade foi sempre afastada devido à palavra “Zen” no título, dado que esta palavra, desde que chegou à cultura ocidental se tornou, de certa forma, um cliché. Lá está, acabei por me tornar a minha própria vítima de outro cliché, o de não julgar o livro pela capa ou, neste caso, pelo título. Ou seja, recomendo a leitura.
O autor como mototurista
Um dos temas do livro é uma travessia de moto pelos Estados Unidos da América. A descrição dos detalhes de preparação da moto, a descrição das paisagens, e as condições meteorológicas são detalhadas sem se tornar aborrecidas. E, além disso, ilustram com fidelidade os sentimentos do mototurista.
As personagens
Além de todas as outras facetas, o livro é uma autobiografia. Entre as referências lúgubres da terapia por electrochoques, surge um alter-ego, Fedro. A este personagem por vezes sinistro contrapõe-se o domesticado autor. Esta dualidade é a própria essência do livro: a briga entre a razão Aristotélica e as paixões ainda presentes nos filósofos pré-Aristotélicos. Nesse sentido, o livro faz lembrar bastante as propostas de Nietzsche.
Ao longo do livro fico relativamente atrapalhado com a necessidade da presença do filho, Chris. Entendo que, ao tratar-se de uma autobiografia, o filho é uma figura importante para o autor, mas desconfio que este não é o único motivo pelo qual ele se encontra presente. Talvez uma segunda leitura me ajude a entender melhor este ponto.
O casal Sutherland, por seu lado, é um dos pontos de partida para uma boa parte das reflexões ao longo do livro.
A manutenção de motocicletas
São inúmeras as analogias feitas com a manutenção de motos. A parte que mais gostei, dessa perspectiva, foi a das “armadilhas do pique” já caminhando para o final do livro. Quem se dedicou alguma vez a consertar a sua própria moto de certeza que já se deparou com algumas das armadilhas, ou até outras, citadas pelo autor. Para além disso, de forma divertida, encontramos bons conselhos para evitar essas armadilhas.
Para exploração futura
Quando estudei filosofia, comecei com os filósofos pré-socráticos, abordando depois Sócrates e Platão. Na altura lembro que fiquei desapontado por aquilo que me pareceu uma distorção da atitude Socrática e Platónica personificada pelos sofistas. Robert, o autor, parece ter uma ideia completamente oposta do estatuto que lhes deveria ser dado. Depois desta leitura, parece-me ser algo que eu gostaria de explorar mais.
Ponto humorístico
Achei particularmente interessante a história da armadilha para macacos.